sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Desabafo: O talento está nos olhos de quem vê


Gente, o que foi o show da Ke$ha no Rock in Rio? Ela manda muito bem. Quem me conhece sabe o que eu achava dela e como foi minha redenção (você pode ler mais sobre isso neste post). Eu já sabia que não teria chance de ir em nenhum dos dois shows no Brasil, por diversos motivos, e já estava pesarosa. Mas depois de assistir a apresentação do RIR, fiquei mais ainda. Dá vontade de chorar por ter perdido uma festa dessas.

Todo mundo sabe que a Ke$ha é a cantora mais gongada da música pop atual. Ela tem haters na mesma proporção da quantidade de fãs. As reclamações não variam muito: é suja, é auto tunada, é de mau gosto. Mas eu entendo. Num mundo onde as bizarrices nojentas de Lady Gaga são consideradas o ápice da arte, uma artista verdadeiramente irreverente é rebaixada ao patamar do ridículo, sendo totalmente incompreendida. Um fato risível: vestir de carne, de múmia, de bolhas é arte, então PODE. Chegar num evento dentro de um ovo como se fosse normal também é arte e também PODE. Falar que é hermafrodita então, PODE mais ainda. Mas ter um dançarino fantasiado de pinto no palco, NÃO PODE. Que tipo de critério é esse?

Afinal, porque a Ke$ha é desconsiderada assim? Acho muita hipocrisia quem fala que é música o que importa. Me desculpem. Para um artista que não sabe o que faz em cima do palco, voz potente é bobagem. Todo mundo adora ver um espetáculo elaborado de vez em quando.

E isso, Ke$ha nos dá de sobra. Chuva de glitter, bagunça, gritos. Ela se entrega ao que foi fazer e cumpre muito bem seu papel. Ela não sobe no palco pra mostrar que tem voz ou que toca algum instrumento. Ela sobe no palco pra fazer todo mundo dançar e se divertir. Uma verdadeira festa, embalada por músicas contagiantes e totalmente apropriadas à proposta dela.

Quanto a voz, todo mundo sabe muito bem que ela tem uma potência leve. O que pouca gente sabe é que nosso querido Dr. Luke decidiu investir em Ke$ha justamente por isso: ele queria uma cantora que misturasse bem versos falados e cantados. Sendo assim, ao vivo ou em estúdio, Ke$ha continua fazendo o que propõe. (obs.: ah, e quando foi mesmo que Dr. Luke errou?)

As críticas mais feias que vi sobre essa apresentação do RIR foram as que diziam que Ke$ha era uma pseudo-rebelde. Por favor, né? Não é possível que é tão complicado entender ironia e deboche nas entrelinhas de tudo o que ela faz. Não devemos levar sua atuação tão a sério assim. Ela incorporou uma imagem, simplesmente, como praticamente todas as cantoras fazem. Ela quer e gosta de ser trash.

Sinceramente? Aos meus olhos, minha querida Ke$ha é o lixo mais bonito e bem produzido de todos os tempos, que a cada dia ganha mais o meu respeito por se arriscar num cenário onde é tão importante ter um diferencial pra ganhar terreno. Dêem uma chance. Ela dá a cara a tapa com uma coragem admirável, superando críticas e pisando cada vez mais em solo firme. Ela não se preocupa em fazer música respeitável, ela quer se divertir e fazer os outros se divertirem também. Valorizem a honestidadade, a simplicidade, a acessibilidade. Ela é o que é.

Uma artista completa. Só depende dos olhos de quem vê.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Livro: A Espiã, por Louise Fitzhugh

Harriet M. Welsh, a Espiã ou simplesmente uma menina de onze anos muito chata. Essa é a protagonista do livro escrito por Louise Fitzhugh, uma menina que espiona a vida de todo mundo que esteja suficientemente próximo dela e anota tudo em um caderninho secreto.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, conhecemos um pouco da rotina de Harriet: ir para a escola, ser chata, espionar diferentes vizinhos, gritar um pouco com alguém dentro de casa, brincar e anotar coisas em seu precioso caderninho. Ela é cuidada pela Bá, uma babá carismática e atenciosa, que tem uma paciência de Jó ao lidar com essa criança chata que Harriet é. Eu pelo menos não me lembro de ser tão insuportável aos onze anos de idade.

Um dia, por motivos que não vou relatar aqui para não atrapalhar a leitura de quem se interessar pelo livro, a Bá vai embora e Harriet se vê sozinha num mundo onde ninguém mais compreende sua necessidade de espionar e escrever para que se torne bem sucedida no futuro.

Em seu caderninho, Harriet anota exatamente o que pensa. Eu sei que crianças conseguem, muitas vezes, serem muito mais maldosas do que qualquer adulto, e Harriet é assim: alguns de seus comentários sobre as pessoas são grosseiros e rudes, quase que sem fundamento. Mas, se pensarmos bem, nós temos pensamentos iguais aos dela quando se trata de certas pessoas.

Na segunda parte, Harriet tem seu caderninho surrupiado pelos colegas de escola, que lêem sobre tudo o que a garota pensa a respeito deles - coisas extremamente críticas e ácidas. E é muito bem feito quando eles deixam Harriet excluída e de lado.

A menina, porém, sem ter a Bá para desabafar, entra num estado de leve depressão e rejeição. Seus pais não conseguem a entender e ela deixa de ir a escola por alguns dias, fingindo uma doença que não tem. Enquanto isso, seus colegas planejam uma vingança.

O livro seria muito bom se Harriet não fosse uma nojentinha pirralha mimada que grita o tempo todo. Porém, se ela não fosse assim, a lição final do livro não teria a mesma graça. Devemos aprender a perdoar os erros das pessoas e aceitá-las como são. Eu perdoei o erro da autora em criar uma personagem tão chatinha e, por isso, dou três estrelinhas a esse livro, cujas continuações não estão entre meus desejos de leitura, apesar disso.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Música: Gemini, por Jack and White

"A lost boy from Neverland meets an All-American girl next door". É assim que Brooke White e Jack Matranga definem essa adorável parceria.


Jack Matranga começou a carreira em 2004, com uma banda própria, mas já participou de diversos outros projetos. Ele é guitarrista e já viajou o mundo tocando, até decidir se entregar a um projeto musical fixo. Brooke White foi finalista de um American Idol (não me perguntem qual - eu realmente não acompanho esses programas de talentos), ficando em quinto lugar. Acabou lançando um álbum solo, intitulado High Hopes & Heartbreak, que, segundo ela, homenageia todas as suas maiores influências musicais. Mas, na minha opinião, é essa fusão que faz com que essa dupla se encontre como artistas e o EP Gemini é a prova disso.

O EP é um trabalho fantástico, que mistura levemente o country, o folk e o indie em doses iguais que, somadas à letras muito bem escritas, resultam em 20 minutos de música mágica, daquelas que permitem que você imagine um pequeno roteiro pra cada uma, ou cenas de filmes e livros em que elas se encaixem, ou fique se imaginando dirigindo no meio do nada ao entardecer.

A faixa-título Gemini abre o EP desprentensiosamente. Quando comecei a ouvir, não dei nada pelo restante até chegar ao delicioso refrão e às guitarras de Jack ao fundo. Segui em frente com gosto e então ouvi o single fofinho e pegajoso Double Trouble: "We're in trouble so we move, on the double we move, on the double we move". Contagiante e uma das minhas favoritas! A voz de Brooke consegue ser forte e delicada ao mesmo tempo, o que muito me agrada. E, nessa música em especial, o coro de Jack dá um charme a mais. Inside Out é a próxima faixa, mais densa que as outras e, de todas, é a melhor composição. Torço pra que seja o próximo single. A baladinha Telephone Games tem outra letra muito legal e o toque mais puxado pro country de todas, mas não de uma forma enjoativa, como as músicas country americanas tem o horrível costume de ser. Smoke and Mirrors já traz de volta a sonoridade que ouvimos inicialmente na faixa Gemini, com um potencial comercial incrível. Acredito fortemente que faria sucesso nas rádios. Por fim, Feathers, pra mim a faixa mais sem graça - e ainda assim com graça - encerra o EP. 

Enfim, o saldo desse EP é muito positivo. Li sobre a dupla por aí e fiquei curiosa demais ao ouvir Double Trouble no You Tube. A demora que levei para achar algum link válido de download valeu muito a pena. Mal posso esperar para um álbum, pois fiquei com muita sede em ter um período mais longo ao lado de Jack & White. Deixo a vocês a amostra que me conquistou, na esperança de que gostem tanto quanto eu!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Livro: Memento Mori, por Muriel Spark

Memento Mori é um livro que, a primeira vista, pode parecer mórbido. Nele, somos introduzidos a todas as aflições da terceira idade, sejam elas físicas ou mentais. Baseando-se nisso, temos motivos suficientes para imaginarmos quão triste e depressiva pode ser essa fase da vida humana. Contudo, a autora escosa Muriel Spark consegue, ao longo da narrativa, dar um ar leve e engraçado nessa típica novela dos anos 1950.

O título do livro é uma expressão em latim usada por monges, que significa "Lembra-te de que vais morrer". E esse é o mote da história. O grupo de anciãos formado por Dame Lettie Colston, seu irmão Godfrey Colston, a esposa dele, Charmian Piper e vários outros idosos de faixa etária entre 70 e 100 anos, todos com algum nível de ligação ou parentesco, amedronta-se com ligações misteriosas que recebem. Nelas, apenas a frase "Lembre-se de que vai morrer" é pronunciada. Cada personagem possui uma forma ironicamente cômica de descontar o medo causado por essa mensagem: implicando com alguém próximo, inventando maldades e desenvolvendo cansativas manias.

Nenhum velhinho é feliz. Estão todos doentes e cansados, tanto deles mesmos e de suas debilitações quanto daqueles com quem convivem. Uma das citações do livro que mais me chamou atenção foi "ter mais de setenta anos é como estar em guerra: todos os nossos amigos estão indo ou se foram, e nós sobrevivemos entre os mortos e os moribundos, no meio de um campo de batalha". Depois dessa leitura, assumo que  fiquei imaginando até qual idade eu chegarei e como morrerei, e quais dos meus amigos ainda estarão comigo nessa época da vida.

O livro é, em sua essência, uma reflexão sobre a velhice adornada por pitadas de suspense e humor e são essas duas características que tornam a leitura fácil e gostosa, embora eu tenha me decepcionado um pouco com o final. O mistério carregado por todo o livro deixa um grande ponto de interrogação que pode ser interpretado de várias maneiras e eu não sou muito fã de finais em aberto. Mas, no geral, é uma leitura interessante, especialmente se você for jovem. Afinal, vale a pena lembrar que a morte não escolhe a idade e que geralmente temos mais medo de envelhecer do que de morrer, só não percebemos isso por associarmos de forma tão próxima as duas coisas.

Obs.: Peço desculpas pela má qualidade da imagem com a capa do livro, mas é realmente difícil encontrá-la melhor que isso...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Série: Parenthood


Queria ter falado dessa série por aqui há muito tempo, mas me perdi em meio a tantos assuntos e novidades a serem abordados. Porém, com a proximidade do início da terceira temporada no dia 13 de setembro, achei por bem citar Parenthood por aqui.

Inspirada no filme homônimo de 1989, estrelado por Steve Martin, a série Parenthood narra a história da família Braverman. Tudo começa quando Sarah Braverman (Lauren Graham, a Lorelai de Gilmore Girls - vale destacar que ela, pela primeira vez, consegue se desprender completamente do estereótipo da Lor) volta a morar com os pais, Zeek (Craig T. Nelson) e Camille (Bonnie Bedelia). Sem dinheiro e desempregada, ela trás consigo os dois filhos adolescentes: a problemática Amber (Mae Withman, interpretando o oposto perfeito de tudo o que Rory Gilmore era) e o insosso Drew (Miles Heizer).

Sarah possui ainda três irmãos, cada qual com sua própria família. O mais velho, Adam (Peter Krause), é o melhor amigo que procura sempre aconselhar os irmãos e acolhê-los em tempos difíceis. Ele é casado com Kristina (Monica Potter), dona de casa que cuida dos filhos do casal, Haddie (Sara Ramos), uma adolescente certinha que aos poucos vai se rebelando, e Max (Max Burkholder), um menino com a Síndrome de Asperger. Para mim, esta é a vertente mais dramática do seriado. Max dá muito trabalho aos pais pela doença que porta, e eles vão aprendendo, com muita dificuldade e dedicação, a lidar com o problema do filho.

Julia (Erika Christensen) é a irmã mais nova. Advogada extremamente bem-sucedida, tem uma filhinha, Sydney (Savannah Paige Rae) e é casada com Joel (Sam Jaeger), o perfeito homem do lar, que lava, passa, cozinha e cuida da casa. Com o tempo, ele vai se cansando dessa função e começa a fazer pequenos trabalhos como marceneiro, fato que desagrada Julia, que, com sua falta de tempo, não consegue ajudar o marido. A situação se complica um pouco quando o casal decide ter mais um filho.

Por fim, temos o irmão mais novo e meu personagem favorito, o imaturo Crosby (Dax Shepard) que descobre que tem um filho, o pequeno Jabbar (Tyree Brown), fruto de um relacionamento rápido com a dançarina Jasmine Trussell (Joy Bryant). Essa surpresa vem pra tentar fazer com que Crosby crie responsabilidade e pare de lavar roupas na casa dos pais, além de sair de seu barco-casa e andar de motocicleta. A mudança é muito brusca para Crosby, mas ele consegue ter uma melhora gradual quando começa a conviver com Jabbar. Com isso, sua reaproximação de Jasmine é inevitável e ele resolve fazer com que um casamento aconteça. Porém, sua imaturidade floresce novamente quando ele trai Jasmine e precisa reconstruir tudo de bom que havia entre eles.
Os irmãos Braverman: Sarah, Crosby, Adam e Julia.
Entrelaçada ao enredo dos quatro irmãos, vemos ainda no seriado o embate entre Zeek e Camille para manter a família unida e o casamento forte, mesmo depois de tantos anos e do gênio forte do patriarca.

A série é um drama familiar muito bem construído e envolvente (tive a certeza disso quando chorei na season finale da segunda temporada - e eu choro tipo... nunca), e não é raro nos identificarmos com as situações vividas pela família Braverman. Apesar disso, temos um leve toque de humor que faz com que a série não se perca em densidade e seja recomendável para qualquer tipo de público. Os personagens são marcantes e muito bem interpretados pelo elenco, inclusive pelos atores mais jovens. Parenthood acumula duas temporadas transmitidas pelo canal NBC e eu estou muito ansiosa pelo início da terceira, neste setembro.

Um retrato típico de uma grande família e uma das séries mais tocantes que já assisti. E, para quem não gosta de fica preso a uma única trama, Parenthood é um prato cheio.